mingau de outono

Não preciso de desculpas pra fazer mingau – é uma das minhas comidas preferidas desde criança -, mas que um friozinho estimula, isso é verdade! E é por isso que, nessas tardes de outono, essa receita tem sido frequente aqui em casa. Ela é simples, saborosa e aconchegante como um abraço.

Mingau de aveia de outono
(rende uma porção bem servida)

  • 1/3 de xícara de aveia

  • 1 xícara de água

  • 1 banana madura cortada em rodelas

  • 1 colher de sopa de uva passa (se quiser mais doce, pode adicionar melado ou açúcar mascavo)

  • 2 colheres de sopa de sementes ou castanhas (pode ser semente de abóbora e semente de girassol)

  • 1 colher de chá de óleo de coco

  • 1 colher de chá de cacau

  • 1/2 colher de chá de canela

  • 1/4 colher de chá de gengibre em pó

  • uma pitada de sal

– Em uma tigela, hidrate a aveia na água quente (esse passo não é essencial, mas eu consigo digerir a aveia muito melhor quando hidrato antes)
– Em uma panela pequena, toste as sementes – em fogo baixo! – até começar a exalar um cheiro gostoso.
– Acrescente o óleo de coco, a banana e a uva passa e mexa até a banana caramelizar.
– Acrescente a aveia hidratada, o cacau, a canela, o gengibre em pó e o sal.
– Mexa por cerca de 2 minutos, até atingir a consistência de um brigadeiro.
– Sirva com frutas da estação, pasta de amendoim e adoce com mel ou melado se achar necessário.

decidir casar

Sentada no carro, na volta de um almoço de família, olhei pro horizonte e me imaginei vestida de noiva. Noiva? É isso mesmo? Justo eu que nunca sonhei em casar, que meus pais não casaram e que já me considerava casada?

Coloquei a ideia de lado, mas ela insistia em voltar – e eu insistia em a reprimir: “Iana, você e o Dudu já namoram há 13 anos, moram junto há cinco e têm casa pra limpar, cachorro pra cuidar e contas pra pagar. Pra que casar?”. Mas não adiantava. Semanas passaram e a ideia de celebrar o amor era cada vez mais forte.

Até que um dia ela escapuliu: “Dudu, e se a gente casasse?”.

Não me surpreendi com o olhar de espanto que ganhei em retorno. Também já esperava as perguntas que vieram a seguir: “mas a gente não é casado?”, “mas você quer casar?”, “mas pra que casar?”. Apesar de já ter me feito esses questionamentos inúmeras vezes, só consegui responder: “não sei…”.

E eu realmente não sabia. Estava tudo ótimo do jeito que estava. Não existiam questões burocráticas que justificassem um casamento, nossas famílias nunca nos pressionaram e não pertencíamos a nenhuma religião. Na prática, casar não mudaria absolutamente nada – mas havia uma vontade difícil de ignorar.

Nos próximos meses, conversamos sobre a nossa relação, responsabilidades, planos e parceria. Às vezes, eu tinha certeza que queria casar e acusava o Dudu de não querer – às vezes, ele queria e se confundia por eu não querer mais. A cada conversa, a gente se entendia e se desentendia – e nos fortalecíamos como casal.

Concluímos que casar só faria sentido se representasse algo além do âmbito religioso, social e jurídico – algo de um nível mais sutil. Concordamos que um casamento seria, sim, importante para nos fortalecermos como família. Casar significaria a consagração dessa união que construímos com tanto cuidado, carinho e dedicação.

Olhando para trás, não consigo apontar o momento em que dissemos “sim” um ao outro. Foi um processo conquistado por nós dois. Por um tempo, achei que a forma como decidimos casar desqualificava nosso casamento – “se está sendo tão difícil, será que é um sinal para não ser?”. Hoje vejo a beleza e importância de termos vivido essa experiência juntos.

No fim das contas, decidir casar foi bem menos romântico, espontâneo e simples do que eu imaginava. Não teve pedido de joelhos, anel de noivado ou champanhe. Não foi mágico, não foi de cena de filme, nem certeza divina. Mas envolveu muita transformação e amadurecimento – e, o principal, muito amor.

( aquela foto lá em cima foi a que tiramos pro nosso convite de casamento <3 )

minha querida vó

Desde que me lembro, minha vó era muito: falava muito, saia muito, ria muito. Às vezes, era até demais. Quando a visitava, corria pra acompanhar seu ritmo e acabava sempre esgotada de tanto ouvir suas histórias e passear por aí. Mas, há pouco tempo, ela caiu, quebrou o quadril e nunca mais foi a mesma…

Desde então, ela é muito menos. Não consegue caminhar, precisa de ajuda para quase tudo e sua audição cada vez mais fraca a fez uma senhora de poucas palavras. Seu quarto se transformou em sua casa – com geladeira, máquina de lavar roupa e microondas – e lá ela passa os dias assistindo à televisão.

Essa semana, eu e minhas irmãs fomos ao Rio de Janeiro visitá-la. Por um lado, foi muito difícil vê-la tão fragilizada e recolhida – apesar de estar bem de saúde e muito bem cuidada, é impossível não se entristecer diante da sua desvitalidade. Mas, por outro lado, nunca me senti tão conectada a ela quanto dessa vez.

Na ausência do barulho, do movimento, do batom, do perfume e das joias, restou apenas a minha vó.

Deitada ao lado dela, senti o toque fino de sua pele, tracejei as veias saltadas em seu braço e acariciei os cabelos cortados por ela mesma. Percebi como eu e minhas irmãs herdamos seus traços – e como suas pernas são parecidas com as da minha mãe. Contemplei-a dormindo e vi uma mulher forte, mas que, no fundo, é apenas humana.

E de tudo que já vivemos juntas, nada me comoveu mais que esses momentos em que estivemos em silêncio, de mãos dadas. Ou o sorriso que ela abria quando a gente entrava pela porta. Ou quando olhei em seus olhos e disse que a amava – e ela olhou nos meus e disse: “Eu sei, filha. Eu também te amo”.

Voltei para Florianópolis com o coração apertado e os olhos cheios de lágrimas – mas com a sensação que recebi um presente muito valioso: a minha querida vó.

minha gamela

Olhei pro bloco de madeira e pensei: não vou conseguir.

Comecei a esculpir com o mínimo de força – já que não ia terminar mesmo… Ao meu lado, 22 mulheres trabalhavam vigorosamente. Eu admirava o progresso delas e fitava meus braços finos – com pena de mim mesma: se eu não fosse tão fraquinha…

Até que um dia, numa tarde de calor absurdo, senti raiva. Raiva do suor, do martelo pesado, da ferramenta desafiada, do barulho enlouquecedor. E bati com força – uma força que nem sabia ter. A cada batida, a raiva crescia e se somava a raivas reprimidas, até explodir em meu peito.

E, no vazio que se criou, nasceu resiliência. Daí em diante, cavei com ritmo e constância até terminar. No fim, ainda sobrou tempo para lixar. Mas preferi assim: torto, imperfeito e com as marcas da minha superação.

(fiz essa gamela em uma semana, durante o quinto módulo do curso de formação em Pedagogia Waldorf.)

nossa vila

Quando a ideia surgiu, foi difícil apontar o autor – minha mãe comentou na mesma semana que eu e o Dudu conversamos sobre. Era basicamente essa: “que tal se morássemos na edícula da casa dos meus pais?”. Lá já tinha sido muitas coisas, – inclusive fábrica de biscoitos – mas, ultimamente, só servia pra acumular sujeira…

Logo de cara, me apaixonei pela possibilidade. Há três anos eu e Dudu morávamos num apartamento pequeno, sem sacada e área de serviço – e com uma cachorrinha cheia de energia. Voltar para uma casa estava na minha lista de desejos mais desejados. Melhor ainda num lugar que amo e perto da minha família, com quem nos damos super bem.

Mas uma questão me perseguia: “será que devo voltar pra casa dos meus pais?”. Apesar de ser uma construção separada, com entrada independente, me perguntava o que esse retorno implicaria. Será que conseguiríamos estar perto sem tirar nossa liberdade? Será eu conseguiria me firmar como mulher sem escorregar pro papel de filha? Será que conseguiríamos estabelecer limites suaves e conviver como dois núcleos familiares distintos?

Mas, não importava o quanto eu questionasse, a imagem de morar naquela edícula enchia meu coração de alegria… Dois anos se passaram de conversas, sonhos e reflexões. Chegamos à conclusão que seria necessária uma adaptação de todos – mas que poderia ser uma experiência maravilhosa.

Até que, em 2016, meus pais decidiram reformar a casa da frente e aproveitamos para reformar a edícula também. O Dudu fez os projetos de arquitetura e pensamos em cada detalhe com muito amor e entusiasmo. Dormíamos e acordávamos falando sobre a nossa casinha – que já parecia pronta em nossos corações.

Mas na prática não foi bem assim: o que era para ser uma simples obra virou um obrão. Três meses se estenderam por um ano de muito barulho, sujeira, decisões, entra e sai de pedreiros e gastos intermináveis. Descobrimos que obras são assim mesmo, mas na hora eu só queria gritar “chega!” e mandar todo mundo embora.

Em julho fez dois anos que moramos aqui – e não passa um dia que eu não suspire de amor por essa casinha. Algumas vezes tive que pedir pros meus pais não gritarem meu nome lá da outra casa, ou aparecerem na janela de surpresa – e algumas vezes eles tiveram que nos pedir para catar os cocôs das cachorras na grama, ou lavar a lata de lixo que compartilhamos. Mas, muitas mais vezes, batemos papo no jardim, dividimos uma refeição, trocamos favores, comidas, sorrisos e delicadezas.

Morar perto é sim um desafio, mas daqueles bons de se superar.

inverno

Hoje amanheceu diferente. As janelas estavam embaçadas como de costume e o orvalho cobria a grama do jardim – mas havia novidade no ar. Assim que o sol cruzou o muro e os passarinhos cantaram alvoroçados, tive certeza: a primavera está chegando!

De repente, quis sair de casa, encontrar pessoas, escrever pro blog e responder mensagens atrasadas no Whatsapp. Toda essa expansão clareou o motivo de tanta introspecção nos meses passados: era inverno. Ufa! Já estava preocupada me achando anti-social e ensimesmada demais…

Me perdoei por ter desmarcado compromissos, fugido de viagens e desejado com tanta força meu sofá. Conversas me cansavam e só queria ficar quietinha em casa com o Dudu. Até excluí o Instagram! Parecia que o mundo lá fora não cabia em mim – já estava saturada por processos internos.

Não foi um inverno fácil. Passar tanto tempo com qualquer pessoa é um desafio – principalmente quando essa pessoa é você mesma. Mergulhei demais em mim e, mais uma vez, encontrei o que se esconde lá no fundo. Momentos de autodesenvolvimento são sempre positivos, mas cansei! Estou feliz de perceber que foi só uma fase – e ansiosa por mudar de estação!

(a julgar pelas vezes que nosso sofá aparece nas fotos, dá pra imaginar onde passamos grande parte do inverno…)

contente

Entre tosses e espirros, minha mãe vem checar como estou. Assoo o nariz e respondo que mais ou menos: o corpo dói a cabeça lateja e a garganta arranha. “Filha, tá tudo bem?”. “Médio, mãe, mas amanhã estarei 100%”. “Não isso, filha”, ela insiste, “tem alguma coisa te incomodando?”. 

Mães têm esse poder de enxergar lá dentro – e, com essa pergunta, desabo num choro que nem sabia guardar. “Ando tão preocupada, mãe…”, respondo entre lágrimas e soluços. Desato a falar da pressão de ser sempre mais: de conquistar mais, de fazer mais, de ganhar mais dinheiro, de estudar mais, de viajar mais. “Mas quem está te pressionando?”, me pergunta num abraço. “Acho que eu mesma…”.

Meu pai chega e questiona o que falta na minha vida. “Não sei, pai. Tenho um trabalho que me faz feliz, uma casa que amo, um companheiro que me completa, minha família por perto, mas parece que deveria ter mais…”. “Então vai atrás de mais”, ele instiga – com aquele poder que pais têm de ir direto ao ponto. “Mas o problema é que não quero mais!”.

Eis que as nuvens se dissipam e percebo um padrão antigo: uma cobrança interna, desmedida e descabida – da criança que apagava a letra torta até a folha rasgar, da adolescente que não aceitava menos que nota nove, da adulta com medo de ser acomodada. “Tenho tudo que quero, mas não consigo aproveitar por achar que devo querer mais…”.

Mas ser acomodada é bem diferente de ser contente. E, nesse momento, eu sou contente! Talvez um dia deseje viajar mais, abrir meu próprio negócio, ganhar mais dinheiro – e, quando esse dia chegar, vou fazer o possível para que meu sonho se realize. Mas, nesse momento, já estou vivendo meu sonho – que não me fez rica nem famosa, mas muito feliz…. 

Por agora, quero continuar trabalhando com prazer, estudar os livros que comprei, escrever quando as palavras transbordarem, passear com minhas cachorras, cozinhar ouvindo música, cuidar da minha casa, encontrar amigos, dançar no tapete da sala, rir com minhas irmãs, conversar com meus pais e amar meu companheiro.

E quero fazer tudo isso com leveza e bom humor. Quero aceitar que tenho o suficiente pro momento e curtir o que já conquistei. Quero confiar no curso da vida – sabendo que me esforçarei para alcançar o que for. Quero pensar no futuro, mas não me preocupar com o que não chegou. E quero não precisar ficar doente para lembrar disso tudo…

“A vida é boa, filha”, finaliza meu pai com um sorriso. 

É mesmo, pai.

virei professora de criança

Era uma tarde quente de janeiro de 2017. Desde manhã, tentava trabalhar num projeto que deveria ser dos meus sonhos – mas que, por algum motivo, não ia pra frente. Frustrada, levantei da escrivaninha e sentei no sofá pra assistir a um vídeo que minha irmã me mandou. Era uma palestra sobre propósito.

Há mais de um ano havia deixado meu emprego de repórter num jornal e me aventurava pelo mundo dos freelas. Ser minha própria chefe e trabalhar do conforto de casa era bacana, mas não estava feliz. Decidi arriscar e criar o trabalho perfeito: uma revista digital que falasse sobre tudo que gosto.

Fiz listas dos assuntos, das editorias, das ideias de pauta. Passei semanas matutando a linha editorial, a diagramação, o nome da revista. Quando finalmente chegou o dia de colocar em prática, telefonei pro entrevistado da primeira matéria e desanimei: não era isso que queria estar fazendo…

Foi aí que sentei no sofá e dei play na palestra. Assisti com papel e caneta e anotei algumas impressões. Aos 40 minutos, fechei o computador, fui até o escritório e anunciei pro Dudu: “já sei o que quero fazer”. Ele me olhou confuso: “ah, é?”. “Sim”, respondi, “quero trabalhar com crianças”.

Fui até a casa dos meus pais, que fica ao lado da nossa, e anunciei o mesmo: “mãe, pai, quero trabalhar com crianças”. Eles ficaram tão confusos quanto o Dudu. Expliquei brevemente como cheguei a essa conclusão e pedi pra minha mãe o telefone de uma amiga, dona de um jardim de infância Waldorf.

Liguei e marquei um encontro pro dia seguinte. Conversamos, contei minha história e ela me respondeu: “Iana, a nossa estagiária avisou que não vai mais trabalhar aqui. Vai pra casa e amanhã me diz como você se sente quanto a isso”. Dormi, acordei e liguei pra ela: “quero muito essa vaga”.

No dia seguinte, lá estava realizando meu sonho de infância: trabalhando rodeada de crianças em uma escola. Apesar de novata, me senti mais segura e preparada que em toda minha carreira de jornalista. Estar com crianças era tão natural que nada me desestabilizava: nem um choro, nem um machucado muito menos uma fralda suja. 

Os dias passaram e a empolgação só aumentava. Muitas vezes questionava se era justo ser paga por algo que me fazia tão bem. Acordava todos os dias cheia de energia, e domingos à noite já não eram depressivos – agora eu ansiava pelas segundas-feiras. Então isso é trabalhar com o que se ama?

Crianças sempre foram minha paixão – desde que era uma, já me encantava estar com as ainda menores. Aos dois anos, aproveitava qualquer chance pra sair por aí com minha irmã recém-nascida no colo. Aos doze, ganhei mais uma irmã – e estar com ela e vê-la crescer era dos maiores prazeres da minha adolescência.

Há anos atrás, meu pai perguntou porque na biblioteca da minha casa só tinham os volumes de arquitetura do Dudu: “onde estão os seus de jornalismo?”. Não havia nenhum – mas já havia alguns sobre educação: que agora enchem as prateleiras e preciso me controlar pra não comprar mais.

Vai fazer um ano que mudei pra outra escola Waldorf, dessa vez como auxiliar de professora. Meus companheiros são 22 crianças de três a seis anos- que não cansam de me emocionar – e uma professora – com tanta experiência e conhecimento, que cada dia com ela vale por muitos na universidade.

Trabalhar com pequenos é intenso: demanda presença, atenção e disponibilidade. Quando estou com eles, estou por inteiro, de corpo e alma. Assim como as crianças, meu aprendizado é constante e todo momento é uma oportunidade de ser melhor. Meu maior esforço é para ser digna de receber tamanha entrega, confiança e carinho que depositam em mim. 

Faz pouco tempo que estou nesse novo mundo, mas, de verdade, parece que nunca houve outro… Tudo aconteceu tão rápido que não parei pra pensar onde vou chegar. Por enquanto, só quero continuar sentindo essa alegria diária de percorrer um caminho que me sinto tão honrada em trilhar.

30 anos

A última vez que me importei tanto com um aniversário foi aos 10 anos – quando, finalmente, iria encher as duas mãos. A ansiedade de fazer 30 não era assim tão fácil de explicar, mas sentia que algo grande se aproximava. Parece que já me preparava para essa terceira década: com transformações profundas que, ironicamente, me levaram de volta para onde estive tempos atrás.

Na semana do meu aniversário, olhei pro espelho e me reconheci: “olha a Iana ali!”. Levei um susto com minha própria constatação. Mas a verdade é que, ultimamente, fui muitas Ianas e nenhuma também. Desde que fiz vestibular, e tive que escolher uma profissão, me esforço para me encontrar – e me perdi mais que nunca. Fazer 30 foi recuperar minha essência e voltar a trilhar meu caminho – com mais bagagem e sabedoria.

Dessa vez, o dia 11 de outubro caiu nas minhas férias. Tracei planos mirabolantes de festas e viagens, mas eu, que sempre fui libriana indecisa, de repente tive certeza do que queria fazer: ir para Ibiraquera com o Dudu. Relutei em aceitar – esse era justamente o plano mais simples e parecia não fazer jus à data especial. Até que, um dia antes, segui meu coração, reservei a pousada e lá fomos nós.

Nem dei chance pro Dudu opinar e decidi toda a programação sozinha. Acordei quando senti vontade, tomei café da manhã sem me importar pro quanto mastigo devagar e almoçamos num restaurante que só eu ia gostar. Remamos de standup na lagoa, caminhamos na praia, fiz aula de ioga e finalizei o dia com uma massagem. A previsão era de chuva – e choveu mesmo -, mas eu estava tão contente e plena que nada me abalava.

No dia seguinte, fomos passear na praia antes de partir. Estava uma neblina densa e o Dudu sugeriu que voltássemos, mas eu queria ir até a pontinha. Chegando lá, esperei o universo me mostrar porque, afinal, quis tanto ir para aquele lugar. Esperei, esperei e nada. Foi quando me dei conta do que já estava acontecendo: pela primeira vez em anos, eu estava ali, presente e completa – e isso era um grande acontecimento. 

Aos 30 anos, parei de me procurar lá fora e me encontrei aqui dentro. Aprendi que individualismo e egoísmo são diferentes e que o primeiro me torna ainda mais inteira. Deixei de culpar e vangloriar os outros pelas minhas derrotas e conquistas e tive certeza que minha vida depende só de mim. Percebi que sou a única responsável pela minha felicidade e isso me fez sentir sozinha, mas muito bem acompanhada por mim mesma.

Aos 30 anos, tomei a vida nas próprias mãos e agora caminho firme com minhas próprias pernas – que me levam para onde meu coração mandar.

eu virtual

Não estou dando conta de ser real e virtual. 

Tento produzir conteúdos elaborados pro blog, mas, infelizmente, tal meta não condiz com meu dia-a-dia de trabalho e cuidados da casa. Escrevo posts na minha cabeça, faço listas de assuntos e imagino fotos que não tirei. Coloco a expectativa muito alta e, por não conseguir alcançá-la, travo e não produzo nada.

Não vejo problema em não produzir nada no mundo virtual – afinal, trabalhar e cuidar da casa no mundo real já é o suficiente. O problema é que quero produzir. Gosto de escrever, fotografar e compartilhar. O que atrapalha é meu nível de exigência – achar que só vale postar aquilo que foi muito pensado, elaborado e aprimorado.

Quando comecei esse blog, apertava o botão “publicar” sem pestanejar. Hoje, há quem faça disso sua profissão – e, de repente, o negócio ficou sério. Vir aqui e compartilhar qualquer coisa parecia bobo e inútil, quando há textos mais bem escritos, fotos melhores e vidas mais interessantes a um clique de distância.

Isso me fez refletir porquê ainda mantenho esse blog. Meu objetivo não é apenas criar um álbum de recordações – muito menos ser uma “celebridade virtual”. Eu gostaria é de fazer parte do que tanto me inspira na internet: essa troca de vivências, experiências e informações, que é tão rica e diversa.

Mas, se me esforço para ser eu mesma na vida real, por que é ainda mais desafiador ser eu mesma na vida virtual? Talvez a resposta esteja na “vida perfeita” das redes sociais. É fácil se sentir inadequado quando todos parecem tão bonitos, divertidos e inteligentes na tela do celular ou computador…

Pois me proponho a vir aqui e ser imperfeita. Me proponho a falar o que está preso na garganta e o que vem do coração. Me proponho a pensar menos e agir mais. Me proponho a publicar as receitas simples, os passeios modestos, as emoções vulneráveis e as fotos fora de foco. Me proponho a ser eu – e nada mais.

E, se ainda gosto de acompanhar os devaneios dos outros, quem sabe alguém gostará de acompanhar os meus também. Não em busca de aprovação, ou admiração, mas de trocas sinceras. E, quem sabe assim acrescentarei algo na vida dessa pessoa – como tantas acrescentam na minha. 

Obrigada por estar aqui.